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'Quero o negro em todas as áreas', diz Chico César

Kamille Viola

01/11/2019 16h47

 

Chico César lança disco novo. Foto: José de Holanda/divulgação

Depois de lançar em setembro seu disco mais recente, "O amor é um ato revolucionário", Chico César traz o show ao Rio neste sábado, no  Circo Voador, com noite que conta com abertura de Mariana Aydar. Com 13 faixas assinadas pelo artista sozinho, o disco alterna canções politizadas com músicas de amor, como "Like" e "History", que falam de afeto em tempos de redes sociais. Para ele, é importante não perder a ternura. "É bem isso: fazer tudo com poesia", resume.

O trabalho foi quase todo produzido por André Kbelo Sangiacomo e do próprio Chico César, que assina a direção com Helinho Medeiros, pianista de seu grupo. As exceções são "History" (produzida e arranjada por Márcio Arantes), "Pedrada" (produzida e arranjada por Eduardo Bid) e "Eu quero quebrar", que, além da versão original, com o artista e sua banda, ganhou uma versão-bônus produzida por André Abujamra.

Ele conta que foi desconvidado de um programa de TV por causa da música "Pedrada", teve seu nome vetado na Virada Cultural de São Paulo durante vários anos e que volta e meia é atacado por perfis de direita nas redes sociais. "Isso se dá não apenas por causa das canções, mas também por causa da minha postura de apoio aos movimentos populares", analisa Chico César.

Acha que um artista tem que refletir seu tempo?

Qualquer pessoa que queira ter o mínimo controle ou pelo menos compreensão sobre seu tempo precisa refletir sobre ele.

Estamos vivendo uma época de muita agressividade contra quem expõe certas posições políticas. Aliás, a arte e os artistas em geral vêm sendo muito atacados. Sofreu algo por conta do conteúdo político das canções do novo disco?

Sofri censura num programa televisivo para o qual fui convidado e depois desconvidado por causa da música "Pedrada", tive meu nome vetado na Virada Cultural de São Paulo durante vários anos, tanto na capital quanto na Virada estadual, perfis de direita de vez em quando me atacam. Isso se dá não apenas por causa das canções, mas também por causa da minha postura de apoio aos movimentos populares.

Seu disco fala em tacar fogo nos fascistas, mas também em likes, em redes sociais… Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás (risos)?

É bem isso: fazer tudo com poesia.

Hoje se fala muito sobre apropriação cultural e apagamento de personalidades negras na música brasileira — como no caso do samba, do axé etc. Como você vê esse processo ao longo da nossa música? E como analisa o cenário hoje?

Eu não tenho uma reflexão aprofundada sobre isso, honestamente falando. Meus ídolos são negros: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, João do Vale. Sempre vi os negros ocupando espaços na área artística e nos esportes. Sinto falta de vê-los nas redações de jornais e TV, ocupando cargos de direção de grandes empresas, assumindo ministérios da área econômica e a presidência da república. Quero que nossa contribuição possa ser dada em todas as áreas.

Hoje também olhamos para atrás e vemos letras de música que consideramos inadequadas, por vezes preconceituosas, racistas, homofóbicas etc. O seu trabalho sempre teve uma carga de politização. Mas sentiu alguma mudança na sua forma de compor, nos assuntos que atraem seu interesse, que te inspiram?

Eu ainda canto "Atirei o pau no gato" como antigamente e também "paraíba masculina mulher macho, sim, senhor" como foi composta por Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Penso que tudo é contexto. Sempre me interesso por tudo, todos os temas, não é à toa que estava cantando "já fui mulher, eu sei" em meu primeiro disco, gravado 25 anos atrás.

Acredita que o amor vai fazer a revolução que vai salvar o Brasil?

O Brasil nunca será salvo, não é disso que se trata. O amor vai abrir os olhos e a soma das pessoas e da sociedade para a necessidade de inclusão social, de estado laico, de respeito às questões de gênero. O amor vai incendiar os corações e as cidades até que viver seja prazeroso para todos, ou quase todos.

Vai lá:
Chico César
Quando: Sábado, 2 de novembro, às 22h (abertura dos portões)
Onde: Circo Voador. Rua dos Arcos, s/nº – Lapa
Quanto: R$ 50 (meia-entrada, 2º lote) a R$ 120 (inteira, 3º lote)

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

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