Gravado por Zélia Duncan, Juliano Holanda é destaque da cena pernambucana
Ele começou a carreira como músico profissional aos 13 anos, mas é considerado um dos principais nomes da nova cena pernambucana. Mas não é sem motivo que este veterano, hoje com 42 anos, é visto como novidade: apesar de ter quase 200 canções gravadas e de ter integrado diversas bandas, entre elas a Orquestra Contemporânea de Olinda (da qual ainda faz parte), foi apenas em 2013 que Juliano Holanda saiu do casulo e lançou seu primeiro disco solo, "A arte de Ser invisível". Nele, ainda se mostrava tímido no papel de cantor: só fez o vocal de uma faixa e convidou nomes como Siba e Ceumar para as demais.
No mesmo ano, soltou o segundo álbum,"Pra saber ser nuvem de cimento quando o céu for de concreto", em que cantou todas as músicas. Ganhou mais projeção ao compor a trilha da série "Amorteamo" (2015), da Globo. De lá para cá, foi gravado por nomes como Elba Ramalho, Zélia Duncan e Filipe Catto, além de ter produzido inúmeros trabalhos de seus conterrâneos. Também dirige o espetáculo "Reverbo", sucesso na noite de Recife ao reunir nomes de destaque da atual cena pernambucana.
No momento, ele está produzindo os discos de Martins, Alexandre Revoredo e PC Silva, também integrantes do Reverbo, e tem se apresentado ao lado do também pernambucano Almério, de quem produziu o álbum mais recente, o elogiado "Desempena", de 2017. Os dois levam seu show ao Manouche nesta sexta, com músicas dos repertórios de ambos e releituras. As conterrâneas Gabi da Pele Preta e Luiza Fittipaldi são as convidadas da noite.
Holanda tem um terceiro disco a caminho, "Da futilidade das coisas", que está há um tempo para ser finalizado, mas vem sendo adiado. "O disco está demorando por conta desses projetos paralelos. Eu também estava querendo fazer de um jeito mais calmo, curtindo o processo. Já está em noventa por cento. Quero crer que ainda sai este ano", contou ele em conversa com o blog.
Você está envolvido em diversos projetos, mas tem um disco solo em andamento há um tempinho já. Como está isso? Quando deve sair? O que pode adiantar dele: tem participações especiais, parcerias etc.?
O disco está demorando por conta desses projetos paralelos. Eu também estava querendo fazer de um jeito mais calmo, curtindo o processo. Já está em noventa por cento. Quero crer que sai ainda esse ano. Tem muitos instrumentistas participando: Guilherme Kastrup, Paulo Rafael, Gilú Amaral, Lui Coimbra, Zé Manoel colocou um piano. Mas ainda chega mais gente.
Você produziu o aguardado disco novo do Ave Sangria, além de tocar na banda. Como é fazer parte desse grupo icônico de Pernambuco? E como têm sido os shows?
Fui criado perto deles. São amigos dos meus pais desde os anos 70. E são influência direta para mim. Fazer o disco foi muito emocionante, me senti devolvendo a eles um pouco do que aprendi. Os show estão sendo muito gratificantes, o CD teve uma ótima aceitação, e o público já assimilou as novas canções. Já fizemos um lançamento em São Paulo, mas ainda vamos rodar bastante o país.
Você é muito ligado aos artistas da nova geração (por exemplo, com o trabalho no espetáculo Reverbo), o que sente que aproxima vocês?
O amor pela canção. Há um diálogo muito natural entre nós. Tenho um sentimento de pertencimento muito forte com eles. O Reverbo é o ápice de um processo de convivência. É muito orgânico.
Como vê a musical pernambucana hoje?
É uma nova fase. Mais baseado na canção. Mais calcada no contato direto com o público. Possivelmente é fruto da atual maneira das pessoas assimilarem arte. Uma música que fala direto no ouvido. É uma geração que tem sua força na voz e na palavra.
No Rio, você irá apresentar mais uma vez o show ao lado do Almério. Como foi a aproximação de vocês? Na sua opinião, como é o encontro de vocês dois como artistas? Como os trabalhos de vocês se complementam?
Almério é um amigo querido. Temos bastante convívio. Essa intimidade é um dos ingredientes do show. Produzi o último CD dele, e temos feito muitos shows em parceria. Ele é do Agreste, eu sou da Zona da Mata, regiões distantes de Pernambuco, mas complementares culturalmente. Nos conhecemos em Recife, mas trazemos muito da ancestralidade do estado em nossa música. Aprendo muito com ele. Nossos shows são uma extensão das varandas de nossas casas.
Você já foi gravado por diversos artistas — aliás, em quanto está o número de canções suas já gravadas? Como é ver suas canções na voz de outras pessoas?
Tive a alegria de ser gravado recentemente por artistas que admiro e tenho na minha história, como Elba Ramalho, Zélia Duncan, Filipe Catto. E tem Almério, Amelinha, Rhaissa Bittar… Não vou me lembrar de todos agora, mas é muita gente. Já são quase 200 canções gravadas. Compor, para mim, é um ato diário. É uma necessidade de fala. Mas sinto que o círculo se completa quando a canção encontra a sua voz. É um dos momentos que mais gosto.
Além dos trabalhos dos quais já falamos, em que mais você está envolvido no momento? Sei que são muitos projetos…
No momento estou produzindo os CDs de Martins, Alexandre Revoredo e PC Silva, artistas integrantes do Reverbo. E também tenho ministrado um oficina de composição de canção popular.
Você já disse que se sempre se sentiu mais compositor do que cantor. Como anda esse lado? Hoje se sente mais à vontade no papel?
Tenho feito muitos shows e acho que estou aprimorando minha linguagem. Estou mais confortável no palco.
Vai lá:
Almério e Juliano Holanda
Quando: Sexta-feira, 9 de agosto, às 21h
Onde: Clube Manouche/Casa Camolese. Rua Jardim Botânico, 983 – Jardim Botânico
Quanto: R$ 30 (meia-entrada) a R$ 60
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