'Meus fãs brancos são meio masoquistas', brinca comediante Yuri Marçal
Ele jura que seu principal objetivo é fazer rir. Em seu trabalho como comediante, no entanto, vem conquistando muito mais que isso. Aos 25 anos (faz 26 em duas semanas), o carioca Yuri Marçal caiu nas graças do público ao investir em uma vertente ainda pouco explorada no Brasil: o humor afrocentrado. Com mais de 200 mil seguidores no Facebook e quase 170 mil no Instagram, ele vê seu sucesso extrapolar as redes: depois de abrir shows de Whindersson Nunes, ele agora é atração da turnê do rapper Djonga e vem lotando espaços Brasil afora com seu seu show solo, "Acendam as luzes".
Pela ausência de referências do estilo no país, ele teve como inspiração artistas de stand up comedy americanos. Exaltando a beleza da mulher negra ou fazendo referência a elementos do candomblé, Marçal alcançou um público que finalmente se viu representado pela comédia. Ele também faz uma zoação aqui, outra ali com estereótipos sobre brancos, que em geral levam tudo na esportiva. "A galera branca que me segue sabe que são piadas, que não tem nenhum tipo de ódio contra ninguém, eles se divertem muito. A única coisa que realmente é verdade, que é o que eu penso, é que eu não me relaciono com mulheres brancas", comenta. A declaração pode soar um tanto polêmica para quem nunca ouviu algo do gênero, mas faz parte da discussão em torno do que se chama de a solidão da mulher negra: os efeitos do racismo na vida afetiva delas.
Criado pela mãe junto de um irmão adotivo, o ex-estudante de Direito (parou no último período) morou em diferentes lugares do subúrbio do Rio, passou a maior parte da vida em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, e conta que hoje consegue viver bem de seu trabalho na comédia: se mudou há pouco mais de um ano para Laranjeiras, na Zona Sul da cidade, e pode proporcionar um bom colégio a seu filho, de 4 anos. Em entrevista ao blog, ele fala ainda sobre os limites do humor, haters e as abordagens emocionadas dos fãs, entre outras coisas.
O tipo de humor que você faz não é muito comum no Brasil. Então eu tenho curiosidade em saber: quais as suas referências? Quem te inspirou?
A base primeira vem da minha própria família, das nossas vivências, da minha família, que é muito engraçada, meus primos principalmente, que eu morei a vida inteira, quase, com meu primo e a gente teve interação de irmão. Ele, por ser uma pessoa muito engraçada, me transmitiu esse humor também. Mas em relação ao stand up comedy, a esse tipo de humor que eu faço no palco, as referências vêm mais lá de fora. Porque lá o que eu faço hoje em dia é mais comum. David Chappelle, Chris Rock, Michael Che, Kevin Hart, a negada de lá trata muito dessa parte que eu trato, dentre outras coisas também, como família, política. Mas vem principalmente de vivências e desse olhar crítico mesmo de querer transmitir mesmo, de ser transparente, eu, Yuri, para o próprio humor que eu levo.
Você sempre foi aquele cara engraçado da escola, dos lugares?
Não, não. Não verdade eu não sou esse cara hoje. Sempre gostei muito de humor e sempre tentei usar isso como uma ferramenta de atrair atenção. Na época de escola e na rua, assim, entre amigos. Mas era mais uma coisa de reproduzir, não era muito algo criativo meu. Foi se tornando com a prática. O talento vem muito disso: de você praticar bastante. Depois no ensino médio eu passei a ser um dos caras engraçadões, mas mais por causa da galera com quem eu andava. Eu sou muito mais tímido do que um cara de chamar atenção.
Você já respondeu um pouco a pergunta que eu ia fazer, sobre se o seu humor sempre foi desse tipo… Com o tempo você foi intensificando as questões da negritude no seu trabalho?
Na verdade, é bem novo para mim. Foi crescendo junto do academicismo, da faculdade, com o crescimento dessas pautas. Na adolescência eu não tinha tanto. Já tinha um olhar crítico sobre a questão racial, mas não tinha tanto essa coisa de levar para o debate, por exemplo. Mas levar isso para o humor é recente. É um assunto que é recente no Brasil. Meu humor sempre de foi de ceninha, de brincadeira, de reproduzir coisas que eu tinha visto. Não de imitar pessoas, mas fazer um escárnio das pessoas que a gente conhecia. Trazer essa visão mais política, mais crítica, é bem recente.
Você fez faculdade de quê?
Eu me formei numa escola de atores, onde fiz teatro e cinema, na Barra, e fiz faculdade de Direito. Tranquei no último período.
Pensa em um dia se formar em Direito?
Nem pensar, nem pensar. A morte é mais suave.
Agora você está abrindo a turnê a turnê do Djonga? Como está sendo essa experiência? Deve ter público em comum, mas também deve ter um público novo…
Então eu descobri — é claro que eu vou precisar de mais alguns shows para falar melhor disso — mas estou vendo que a gente se divulga muito. Claro que o público dele é maior que o meu, porque a música tem esse alcance, mas muita gente conheceu o trabalho dele a partir de mim e muito mais gente conheceu o meu trabalho a partir dele. Só que eu eu descobri que é o mesmo público, é a mesma galera. Não tem nenhuma atração antes de mim. Quando eu entrei no palco e perguntei "Quem aqui me conhece?", todo mundo levantou a mão e gritou "Eu!". Meio que a gente combinou as duas artes mesmo. A galera dá comédia está migrando muito para acompanhar e estar junto, está ficando amiga da galera do rap, e a galera do rap está colando total no meu show, me divulgando e ficando amiga também. Isso também é outra coisa que é muito comum nos Estados Unidos. Então essas duas artes estão meio que se fundindo por causa até dessas questões, dessa união. Uma história muito parecida de vida. E está sendo incrível. Esse fim de semana tem mais, em São Paulo no Rio. Está sendo uma experiência maravilhosa, o público está lá, esperando um show de rap, mas aí chega um cara contando piada a galera ama também, fica um show a mais. As pessoas que amam mais os dois artistas ganham isso de presente.
A gente em vê a galera que adora seu trabalho comentando nas redes. Mas você recebe muita mensagem de hater?
Eu não sei se estou numa bolha tão específica na internet, mas chega muito dificilmente. Ou eu não vejo, ou não me importo mesmo. Porque, normalmente, quando chega, eu acho muito engraçado. A mim, me diverte, na verdade, porque é sempre uma coisa muito sem noção, muito fora do que realmente está acontecendo. Mas é pouquíssimo. Quando tem é "racismo ao contrário", "essa cara é mais racista que o normal", "ah, não tem graça", esse tipo de coisa.
Se minha matéria fizer surgirem, peço desculpas antecipadamente…
(Risos) Eu gosto, eu realmente gosto, acho engraçado. Porque dá muito material para a gente também.
Eu li que uma vez você recebeu até uma ameaça de processo. Foi a única vez? E foi por quê?
Ah, vira e mexe tem. Mas foi alguma piada bem boba. Geralmente é um motivo ridículo, nunca é uma coisa: "Nossa, o Yuri pegou pesado agora." É sempre: "Sério que foi isso?". Não lembro agora qual a piada ou algum vídeo que eu fiz sobre gente branca, aí uma advogada me mandou uma mensagem meio malcriada dizendo que eu ia receber uma intimação por causa daquilo. Eu fui e mandei meu CPF, para facilitar a vida dela. Mas não chegou nada, não. Pelo menos não até agora (risos).
Cada vez que eu vejo seus perfis nas redes, você tem mais seguidores. Você é abordado na rua pelos fãs? E como costuma ser essa abordagem?
Bastante. Nos últimos seis, oito meses não teve um dia na minha vida em que eu saísse de casa e não fosse parado na rua. Às vezes em lugares onde eu tenho certeza que ninguém vai me reconhecer, o pessoal para e conversa, tira foto. Acho que com todo humorista, mas talvez comigo seja mais, por causa da identificação, de vivência: é uma abordagem muito calorosa, nunca é uma coisa: "Oi, tudo bom, Yuri? Parabéns pelo seu trabalho." Essa é a exceção. É bem uma coisa de abraçar, beijar, querer que ligue para a mãe, "Nossa, eu te adoro, eu te amo, obrigado por tudo que você faz". Tem gente que se emociona, eu fico bem assustado, no bom sentido.
Você falou que é mais tímido. Alguns humoristas são, ou sérios, e vários contam que as pessoas esperam que eles sejam engraçados o tempo todo…
(Risos) Exatamente .
Tem isso da galera ficar falando "Ah, Yuri, fala uma coisa engraçada, conta aí"?
Sempre, sempre, em qualquer lugar. Quando eu pego Uber que descobre que eu sou comediante: "Ah, conta uma piada aí", "Aquela que você contou…". Sempre alguma coisa. E não, gente. Primeiro que isso é meu trabalho, e eu não vou ficar dando de graça para você, e também que fica meio sem clima, vou fazer só porque estão pedindo, talvez não tenha a graça que a pessoa espera que tenha…
Sempre se fala de quando você apareceu no quadro do Faustão ("Quem Chega Lá", do qual foi finalista). Foi isso que fez você ficar conhecido? Ou teve algum outro fato que causou um impacto nos seus seguidores?
Teve isso de 2017, no "Domingão do Faustão", que foi uma virada muito bacana na minha carreira, mas talvez dentro do circuito de comédia. As coisas começaram a acontecer, de receber bem e tal para fazer comédia. Eu já estava num crescente, mas no meio do ano passado para cá que aconteceu uma virada muito assustadora, de eu viajar com Whindersson (Nunes), que eu abro os shows dele também, vários vídeos meus viralizarem em sequência, o reconhecimento ficou muito maior, as pessoas passaram a seguir o meu trabalho, a acompanhar, indicar para todo mundo — a pessoa nunca vê um vídeo meu só, acaba vendo todos —, fazer N shows, meu show solo começar a lotar… E agora, este ano, mais ainda.
Você hoje vive do seu trabalho como humorista?
Sim, sim. Já tem um tempo. Talvez um ano e meio. Hoje em dia eu consigo viver bem: moro na Zona Sul do Rio, meu filho estuda nas melhores escolas e tal, consigo viver bem de comédia. Mas de um ano e meio para cá eu estava conseguindo sobreviver, vamos dizer.
E você chegou trabalhar em outras áreas antes de se dedicar só à comédia?
Sim, sim. Trabalhei no Procon… tudo em que eu trabalhei, na verdade, foi referente ao Direito. Trabalhei um tempo no Tribunal de Justiça, no Centro do Rio, trabalhei um tempo no Procon, também lá, trabalhei num escritório gigantesco de advocacia, também no Centro do Rio… tudo referente ao Direito.
E antes de morar na Zona Sul, onde você vivia? Onde cresceu? Pode me contar um pouco da sua história?
Eu sempre morei em favela. Eu nasci em Vaz Lobo, próximo à Serrinha (que fica na divisa do bairro com Madureira), minha família toda é de lá. Depois eu fui morar em Coelho Neto, perto da favela Jorge Turco, numa vila. E depois eu fui viver e passei a maior parte da minha vida na Carobinha, que é uma favela em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, perto da Vila Kennedy e Santíssimo. Nesse ambiente que eu vivi, minha família mora toda lá, a faculdade que eu fiz foi lá. Depois que eu vim para a Zona Sul, por uma questão de praticidade, com as viagens, shows e tudo mais.
Você saiu do bairro onde cresceu para um lugar elitizado. Como foi essa mudança? Outro dia entrevistei o Baco Exu do Blues e ele disse que hoje frequenta lugares onde é o único negro, e que isso foi uma grande mudança na vida dele. Você vive isso? Hoje é muitas vezes um dos poucos negros do ambiente?
Feliz ou infelizmente, eu já estava acostumado com esse tipo de coisa. Porque, por mais que eu sempre tenha morado em favela, eu sempre frequentei lugares elitistas. O pouco de dinheiro que a minha família, a mãe e as minhas avós tinham, elas gastavam na minha educação e na minha saúde. Então eu sempre tive plano de saúde, estudei em escola particular, a minha faculdade foi particular, a escola de atores também, bastante cara. Sempre fui acostumado, até falo sobre isso no show, a ser o único preto dos lugares. E na Zona Sul não mudou. A diferença é que agora eu percebo o que está acontecendo. Antes eu nem me ligava muito, mas agora eu percebo e sei por que está acontecendo. O choque só foi grande em relação a mim mesmo, porque em favela o preço das coisas é outro, no subúrbio o preço é completamente diferente do da Zona Sul, o tratamento entre as pessoas é totalmente diferente, todo mundo se conhece. As leis são diferentes, sabe (risos)? A convivência é diferente. E esses hábitos que eu tive que entender e estou tentando ainda, mas também não faço muita questão de me adaptar a eles, não. Não interfere muito em quem eu sou.
Os seus amigos brancos ficam incomodados com as piadas que você faz zoando brancos? Recebe mensagem de fã branco chateado?
Nem um pouco. Na verdade, nada, nada, nada. Eles até gostam, são meio masoquistas. Pelo fato de eu ter crescido e ter sempre convivido nesse meio, muitos dos meus amigos são brancos. Sempre foram bem ambientados com esse tipo de humor, essa brincadeira que eu faço. Pelo menos eu não lembro de ter tido problema, do tipo: "Ah, pegou pesado!".
Já se arrependeu de alguma piada?
Provavelmente já. Não contada em palco ou em vídeo, acho que não. No palco, embora eu improvise bastante e o improviso seja livre, a gente não sabe o que nossa cabeça vai mandar a gente falar, eu acho que não. Já deve ter acontecido de fazer alguma piada interna entre amigos, conhecidos, alguma pessoa com quem eu achei que tinha intimidade e não tinha, contar uma piada e depois falar: "Ai, caraca, dei mole." Também nem sei se isso aconteceu, estou chutando aqui porque ninguém é perfeito.
Ou então aquela lembrança de Facebook… Você acha que a sua consciência evoluiu?
Ah, isso, sim. Isso com certeza. Tem piada que eu fazia em 2010, 2011 que hoje eu digo: "Não é possível que não tinha uma pessoa para dar uma porrada no Yuri de 2010!". E aí agradeço: "Claramente eu não penso mais assim, claramente esse é o tipo de piada que eu não faria, nem acho graça." Para mim, o principal problema de uma piada é ela ser sem graça. Vira e mexe tem lembrança de Facebook que eu fico: "Nossa, que vergonha!".
Falando nisso, eu li uma entrevista em que você dizia que não ligava para piadas sobre negros. Queria entender: o que você quis dizer quando falou isso? Você acha que o humor tem que ser 100% livre mesmo?
Eu estou falando isso, mas não tenho uma opinião formada sobre isso ainda não, tá? Eu estou em plena construção/desconstrução. Mas para mim a questão é quando entra no Código Penal mesmo: se você falar uma coisa e alguém não gostar e achar que você ofendeu, essa pessoa tem todo direito de fazer o que ela quiser dentro da lei. Se ela não gostou e falar: "Não gostei do que você disse e quero te processar", e você estiver respaldado pela lei… A liberdade de expressão é também para a outra pessoa, é para todo mundo. Nessa entrevista, quem abre o vídeo percebe que eu não falei nada disso. A questão das piadas de cunho racista, das piadas com negros, é porque não tem graça. E eu não digo isso porque me fere diretamente, até porque não me fere, eu sou comediante, eu rio de tudo. Estamos em 2019, aí a pessoa vai falar: "Aí chegou um negro, hahaha", e, segundo a piada, ele é ladrão. A gente já tem 450 anos ouvindo essas piadas. A gente já sabe onde a pessoa vai chegar. A gente já riu disso a vida inteira, então a pessoa vai estar repetindo a mesma coisa. Se ela fizer uma piada em relação a um cara preto ou uma mina preta e for engraçada, eu vou rir. Se alguém não gostar, tem o total direito de reagir como bem entender, respaldada na lei sobre aquilo que ouviu e não gostou. Se for engraçada, eu vou rir. Se não for, vou achar uma merda e vou falar: "Cara, isso é uma merda." Só que, como falei na mesma entrevista, não lembro se foi ao ar: quando alguém, por exemplo, faz uma piada racista, essa pessoa me dá o total direto de fazer a piada que eu quiser com ela. Se você fez uma piada racista comigo, a gente não tem mais limites a partir daqui. Então eu vou falar o que eu quiser. Sei lá, a pessoa que fez essa piada perdeu a mãe num acidente: eu vou fazer piada com isso e não vou ter o menor pudor. Essa pessoa tem que entender que, a partir do momento em que ela fez esse tipo de piada, ela abriu tudo, ela tornou 100% livre e ela também tem que entender que pode receber um tipo de piada do qual ela pode não gostar. Mas aí a gente não vai se importar com isso.
Acha que o humor depreciativo é válido?
Sim, é um elemento. Tudo humor é válido. Dependendo da forma como você faça e com quem você faça. É um elemento. Eu uso muito pouco. Uso mais em relação a timidez, esse tipo de coisa, não uso mais em relação a "Ah, sou feio, hahaha". Não levo mais para esse lugar. É válido. É aquilo, volto no lugar da graça, e como você está fazendo, por que você está fazendo. Tudo vai depender de como vai ser falado, do humor que vai ser trazido nisso.
A abordagem das pessoas é muito emocionada e os comentários nas suas redes também. Acho que as pessoas se identificam muito. Além de fazer rir, o que te inspira é empoderar as pessoas negras?
Sim e não. Na verdade, isso é uma consequência: meu objetivo é fazer as pessoas rirem. Se as pessoas estão rindo, está maravilhoso. Quando a consequência disso é esse empoderamento, essa autoestima, essa identificação, essa relevância do povo preto, do povo de religião de matriz africana, que é uma coisa da qual eu falo bastante também, essa consequência eu acho maravilhosa, é um plus incrível, para mim é emocionante, até. Mas o principal objetivo é fazer as pessoas rirem. Isso aí é a maioria das coisas nas quais eu acredito. Tem coisa que eu faço que não necessariamente é minha opinião, mas, quando é, eu acho maravilhoso.
Você acha que o humor também pode ser uma forma de ativismo ou resistência? Ele pode ser uma arma importante?
Completamente. Porque o humor atinge as pessoas de forma mais rápida. Por exemplo, isso a música também tem. Quando o Djonga fala, como ele faz nesse álbum novo, sobre a ancestralidade, isso atinge as pessoas de uma maneira que, inconscientemente talvez, elas pensam: "Cara, preciso valorizar minhas raízes, preciso valorizar minha mãe, minha avó, porque elas batalharam para caraca numa época em que tudo era horroroso." O humor é mesma coisa: se você riu da piada, significa que você entendeu. E aquilo pode reverberar na sua cabeça de uma forma muito bacana. Mesmo que o comediante não queira, pode ser usado como uma arma, sim. Você pode colocar uma mensagem ali, fazer com que as pessoas pensem. Riam, principalmente, mas pensem: "Interessante isso aqui que o cara postou", e levem para mais pessoas que possam mudar sua postura.
Você está se apresentando pelo Brasil e já conheceu várias personalidades que elogiam seu trabalho. Tem algum sonho ou objetivo no momento que queria muito realizar?
Eu não planejo muito. Sempre tem algum sonho implícito, mas, como sou meio competitivo comigo mesmo, não planejo muito. Eu tinha um sonho no Teatro Bradesco, que tem mil lugares. Ainda mais que lá é muito elitista, lotar um teatro com quase mil pretos para mim ia ser emblemático. Mas imaginava que isso ia acontecer lá para 2020. Só que agora eu vou fazer para dois mil, no Vivo Rio, meu sonho dobrou. Então não fico planejando muito, senão vou acabar ficando obcecado em realizar. Prefiro não planejar.
Sempre vejo suas redes e fico pensando: seus fãs brancos ficam muito carentes, querendo que você responda, interaja?
A galera que é branca e me segue entende perfeitamente o que eu falo. Sabem que são piadas, que não tem nenhum tipo de ódio contra ninguém, elas se divertem muito. A única coisa que realmente é verdade, que é o que eu penso, é que eu não me relaciono com mulheres brancas. É uma piada que eu faço nas minhas redes sociais, mas é uma coisa que realmente acontece. A galera branca que vai nos shows, a galera branca que está nas minhas redes sociais, eles já entenderam e eles acham muito importante e muito engraçado. Estão numa onda muito comigo, de se divertir, de vir para cima, de mostrar para outras pessoas. Quando faço uma piada com branco, eles ficam rindo.
Com certeza, agora que você está famoso, muito mais mulheres, em geral, devem estar dando em cima de você, negras e brancas. Isso é uma condição sua mesmo, podem perder as esperanças?
Sim, sim. E não é nenhum esforço isso. Principalmente nesse lugar que eu estou ocupando nesse momento. Não tem esse esforço, nunca tive na vida. Só não acontece. Simplesmente não rola. Eu não fico em casa: "Meu Deus, já estou há não sei quantos dias sem me relacionar com brancas!". Não, só não acontece. Até porque hoje em dia é muito mais difícil, eu tenho um público majoritário de mulher preta. Muito mais difícil de acontecer. Não é nenhuma ideologia: "Não vou fazer." Simplesmente não acontece.
Vai lá:
Yuri Marçal em "Acendam as Luzes"
Quando: Domingo, 28 de abril, às 19h
Onde: Vivo Rio. Av. Infante Dom Henrique, 85 – Aterro do Flamengo
Quanto: R$ 30 (promocional) a R$ 180
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