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Larissa Luz vive as dores e alegrias de Elza Soares no teatro

Kamille Viola

27/07/2018 10h46

Larissa Luz (à frente) no musical 'Elza'. Foto: Leo Aversa/divulgação

"Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Os versos da música de Paulo Vanzolini bem que poderiam ser uma homenagem a Elza Soares. Aos 88 anos, a cantora acumula dores e recomeços em sua trajetória, revisitada agora nos palcos no musical 'Elza', que estreou na semana passada no Teatro Riachuelo, no Rio. Com texto de Vinícius Calderoni, direção de Duda Maia, direção musical de Pedro Luís e arranjos de Letieres Leite, o espetáculo mostra uma mulher que teve a vida marcada por tragédias, mas jamais deixou de lutar e seguir em frente.

Convidada para o papel principal, a cantora baiana Larissa Luz divide o personagem com outras seis artistas, escolhidas em uma série de testes: Janamô, Júlia Dias, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacorte e Verônica Bonfim. "Eu me surpreendi com cada detalhe da história. As agressões múltiplas, as perdas, a fome literal e abstrata, as fatalidades e a forma como ela encarou e sobreviveu a elas, o amor… Além de tudo, ela foi capaz de amar incondicionalmente e cuidar exaustivamente de quem amou. É muita luz num ser só", derrete-se Larissa.

Elza foi obrigada pelo pai a se casar aos 12 anos. Aos 13, já engravidava pela primeira vez. Muito pobre, chegou a catar comida no lixo. Perdeu dois filhos do primeiro casamento por inanição (ou seja, fome) e outro, seu e de Garrincha, em um acidente de carro. A filha Dilma foi sequestrada por um casal de sua confiança, e só anos depois mãe e filha se reencontraram.

O romance com o craque Garrincha, por sinal, também foi marcado por muito sofrimento. Acusada de ser a culpada pela separação do jogador e sua primeira mulher, sofreu ataques da imprensa e do público. Além disso, Garrincha era alcoólatra, e Elza foi vítima de violência doméstica. Ele também estava alcoolizado quando sofreu um acidente de carro que vitimou a mãe da cantora. Com altos e baixos em sua carreira, Elza Soares vive hoje um de seus melhores momentos. Em 2015, lançou o disco 'A Mulher do Fim do Mundo', seu primeiro trabalho só com inéditas, que arrebatou público e crítica. Em maio, foi a vez do também elogiado 'Deus é Mulher', no qual mantém o tom politizado e provocador.

As artistas que vivem Elza Soares no espetáculo. Foto: Leo Aversa/divulgação

Estão no espetáculo momentos marcantes como a primeira vez da artista na TV, quando Ari Barroso perguntou a Elza de que planeta ela vinha e recebeu uma resposta impactante: "Do planeta fome." Se enfrentou o desdém do apresentador no início, ao fim de seu número ela ouviu dele uma previsão: "Nasce aqui uma estrela."

A trama é embalada por clássicos do repertório da cantora interpretados ao vivo, entre eles "Lama", "O meu guri" e "A carne", além de sucessos recentes, como "A Mulher do Fim do Mundo" e "Maria da Vila Matilde". O repertório também conta com duas canções inéditas: "Ogum", de Pedro Luís, e "Rap da Vila Vintém", de Larissa Luz.

"A Elza é uma grande referência pra mim. Senti o peso da responsabilidade de representá-la, mas, ao mesmo tempo, uma excitação grande pelo desafio que seria. Gosto de sair do lugar de conforto e tentar ir além sempre. Criar é meu combustível, e fazer arte engajada, politizada me preenche. Senti que seria transformador. E foi", comenta Larissa, que vê diversas afinidades dela com Elza. "Também sou da luta, da resistência, de levantar e dar a volta por cima. Me identifico com a conexão dela com o presente e a necessidade de se reinventar. A relação visceral com a música que é de cura, de sobrevivência. A forma intensa como viveu e vive cada detalhe da vida. Mexeu demais comigo mergulhar no mundo dela", revela a baiana.

Para Larissa, o maior desafio é trazer o estado Elza para cena. "Passar não só o que ela aparentou ser, mas o que ela realmente sentiu ao longo dessa trajetória. Entender de onde partia cada gesto, cada som, trazer uma força sobrenatural, que é a dela, na presença, no pisar, no respirar, na intenção de cada ação… Tecnicamente falando, me despir do meu sotaque para me aproximar do ritmo característico de fala dela também é um desafio grande", conta a artista.

Para participar do musical, Larissa Luz deu uma pausa no processo de realização de seu terceiro álbum solo, previsto para outubro e produzido pelo conterrâneo Rafa Dias, do ÀTTØØXXÁ. "Posso adiantar que é um disco místico de constatações e celebrações", comenta a cantora.

Vai lá:
'Elza'
Quando: Quinta, às 19h. Sexta e Sábado, às 20h. Domingo, às 18h. Até 30 de setembro
Onde: Teatro Riachuelo. Rua do Passeio, 38/40, Centro. Telefone: (21) 2533-8799
Quanto: R$ 20 (balcão nobre, meia) a R$ 100 (plateia VIP, inteira)

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

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