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Atração do Rio Montreux Jazz Festival, Yamandu Costa temeu não tocar mais

Kamille Viola

07/06/2019 11h02

Há cinco anos, Yamandu Costa descobriu que estava com o pulso quebrado e precisou cancelar três meses de shows. Ele vinha sentido dores havia algum tempo e fazia sessões de fisioterapia, mas a fissura não tinha sido detectada. Precisou operar e temeu não voltar à antiga forma. Desse período de repouso forçado, no entanto, acabou surgindo seu próximo projeto: o álbum "Vento Sul", em que o instrumentista canta pela primeira vez profissionalmente. As canções são, em maioria, parcerias com o compositor carioca Paulo César Pinheiro, que completou 70 anos em 2019.

Ele não pretende fazer shows do trabalho. Mas a agenda segue com todo gás: além de shows — ele se apresenta esta sexta-feira no Rio Montreux Jazz Festival, ao lado da Camerata Jovem —, ele toca o aplicativo criado em há dois anos, webséries como "Visita Boa" (em que apresenta músicas ao lado de outros artistas) e prepara outros álbuns, como um ao lado do multi-instrumentista Marcelo Giran e outro com o acordeonista Bebê Kramer. "Eu sempre gostei de trabalhar muito e estar produzindo muito, e hoje em dia ter como escoar tudo isso é uma coisa muito boa", garante ele. "Mas o meu tempo diminuiu demais. Não tem comparação. Cinco anos atrás eu tinha uma vida pacata, comparada com hoje. Mas eu gosto, acho legal", diz.

O show no Rio Montreux acontece às 19h30, no Palco Tom Jobim, montado no Píer Mauá. O festival, que começou na última quinta, acontece até domingo e vai reunir cerca de 40 artistas, com nomes como Corinne Bailey Rae, Stanley Clarke, Hermeto Pascoal, Al Di Meola, Andreas Kisser e Steve Vai, entre outros. São oito palcos, sendo três nos armazéns 2 e 3 do Píer Mauá, e os demais no Parque Madureira, Praça Nossa Senhora da Paz, Varnhagem, Parque das Rosas e Largo do Machado.

O que está achando da chegada desse festival ao país, e sobretudo à cidade do Rio?

A importância é grande, ainda mais com essa nova onda política que estamos vivendo, essa discussão em volta da cultura. Esse grande questionamento que está em todo mundo: onde é que a gente vai parar? E tem um evento desse porte, que traz essa marca de tanta relevância. Eu já estive tocando lá no festival, na Suíça. Fico muito feliz que a cidade do Rio esteja tendo essa oportunidade de receber um evento dessa magnitude, com esses nomes todos que estão trazendo. Acho que é um respiro na vida cultural carioca, que está tão abalada nos últimos tempos.

Como foi a experiência quando você se apresentou lá em Montreux?

Poxa, foi maravilhoso. É um festival muito grande lá, são vários núcleos diferentes: tem o palco ao ar livre, que é para milhares de pessoas, e tem os palcos que para a música mais intelectual, para públicos menores. Eu toquei numa sala para umas 800 pessoas, uma coisa assim. Era uma série de violonistas, tinha o francês Sylvain Luc, que é um nome bastante forte também na Europa. Foi uma experiência magnífica. Faz bastante tempo, mais de dez anos. Tenho uma ótima recordação dessa história toda.

Aqui no festival, você vai se apresentar com a Camerata Jovem, um encontro que já aconteceu antes. Como é o concerto que vocês fazem juntos?

É muito legal. A Camerata Jovem, a orquestra da Ação Social pela Música do Brasil, eu conheci alguns anos atrás num festival de música clássica lá na Paraíba. E fiquei muito emocionado em ver como a música realmente é transformadora, como a música salvou, de alguma maneira, a vida desses jovens. E a paixão deles pela música. Eles estão chegando aqui daqui a meia hora na minha casa (na última quinta-feira), é o terceiro ensaio esta semana que a gente faz, e eu te digo que é um negócio muito legal tocar com músico que tenha essa força e essa empolgação que só a juventude mesmo tem. É um negócio que alimenta mesmo a gente. Eu convidei eles dois anos atrás para participar de um show meu na Sala Cecília Meireles, principalmente para ter um pouco mais de proximidade com eles. Essa semana eu já tive três ensaios com eles, da outra vez que convidei também tive três ensaios. Essa convivência é muito legal. E a orquestra já melhorou muito nesses últimos dois anos. Também não deixa de ser uma afirmação de que a cultura realmente transforma, ela não deve ser vista como algo que seja supérfluo. Muito pelo contrário. A participação deles deixa um pouco claro isso: que esses projetos sociais, todas essas iniciativas têm que continuar acontecendo. Isso é muito importante.

Na época em que você fez esse show com eles na Sala Cecília Meireles, você anunciou o lançamento do seu aplicativo também. Eu vejo você volta e meia em projetos diferentes, tem o aplicativo, para o qual você grava conteúdo sempre… Você acha que o músico hoje em dia tem que se virar, se desdobrar em mil papéis para acompanhar a tecnologia, a mudança no consumo de música?

Eu notei uma diferença bastante grande depois que eu comecei a mexer com essas coisas, passei a incrementar as minhas redes. Percebi uma mudança muito boa em termos de interesse do público. Tudo isso que está acontecendo á uma grande incógnita. Como eu sou um sujeito muito intenso, meio que me encaixo bem nessas novas tendências, porque eu sempre gostei de trabalhar muito e estar produzindo muito, e hoje em dia ter como escoar tudo isso é uma coisa muito boa. Até para o meu sentimento mesmo como artista. Por exemplo, os meninos estão vindo agora gravar aqui comigo. A gente vai filmar e vai gravar em áudio tudo isso, daqui a pouco vai colocar no YouTube. Você se aproxima mais do seu público, ele vê que você está a fim de mostrar as coisas, que você tem o que dizer. O aplicativo acaba sendo mais um espaço de mostra e de comércio, eu consigo vender algumas partituras e tal. A gente abraçou a causa digital de uma forma geral, o aplicativo é uma coisa a mais. Estou fazendo séries para o meu canal do YouTube direto, o número de assinantes subiu muito no último anos. Vai ter uma série chamada "Histórias do violão", em que a gente está documentando quase todas as viagens, filmando os shows, as pessoas que aparecem nos bastidores, nas rodas de música, nos encontros. Tudo que seja além da coisa da apresentação, do palco. Tudo o que acontece na vida da gente. Para mostrar para as pessoas que é uma vida também muito dura, trabalhosa. Às vezes acham que o artista só vive um certo glamour. Claro que existe também, mas não é o principal. A gente trabalha demais, faz 20 projetos ao mesmo tempo. Eu ando viajando cada vez mais para o exterior, então poder estar documentando tudo isso eu acho muito importante, muito bacana. Eu não tenho bola de cristal para saber onde é que vai parar isso, só não tenho dúvida de que estou fazendo parte dessa nova tendência, e está me fazendo muito bem. Claro, o meu tempo realmente diminuiu muito.

Entre viagens e fazer esse conteúdo, como fica seu dia a dia? Você treina muito também?

Nossa! Eu não sou um cara de ficar estudando muito, não. Mas o meu tempo diminuiu demais. Não tem comparação. Cinco anos atrás eu tinha uma vida pacata, comparada com hoje. Mas eu gosto, acho legal. Acho que está na hora de fazer as coisas mesmo.

Você é uma pessoa que dorme pouco?

Mais ou menos. Eu preciso dormir umas oito horas por noite. Agora nas viagens isso aí não é fácil. Agora em julho já começo a viajar de novo para fora: vou para Miami, para a Colômbia, depois para a Europa, em agosto eu vou para a Austrália, Japão, China. É uma confusão. Mas é muito bacana, e tem que agradecer mesmo o privilégio de poder levar a música, enxergar como uma missão e se cuidar um pouco para conseguir dar conta de tantos compromissos.

Eu já vi você dizer algumas vezes que não gosta quando se fala em música instrumental. Então vou falar do violão: você é um dos grandes nomes na história de um instrumento que é superimportante no Brasil. Você sente que o tipo de música que faz é valorizado aqui? Ainda mais você que viaja bastante…

É uma história que tem uma raiz profunda. Esse nome foi inventado na América do Sul, isso só existe aqui. Não deixa de ser um preconceito e uma falta de entendimento a respeito dessa manifestação musical. É uma música feita de outra maneira, música intelectual. É para você ouvir, não é para você dançar, não é para você curtir, não é para você beber. É uma outra coisa. Isso mostra de alguma forma o despreparo da nossa formação educacional, que as pessoas não entendem esse tipo de música, não sabem que existe isso. É uma fotografia do que a gente é. A gente não tem que ter vergonha disso, mas tem que ter vontade que melhore. Que as pessoas tenham discernimento, não necessariamente para consumir, mas ao menos para entender. Isso acontece com todas as coisas mais intelectuais: você fala da Física, da parte científica, as pessoas não têm a menor noção. Esse tipo de rótulo só mostra o atraso de informação, de educação, de acesso à cultura, de valorização dessas coisas humanas que o nosso povo tem. Isso é tudo é um certificado de atraso social.

Você gravou um disco de canções no ano passado.

Gravei, está saindo agora em julho. Isso mostra que eu não tenho nenhum preconceito com a canção, muito pelo contrário. Eu estou falando de um tema que é muito maior que isso: é a compreensão da cultura de uma forma geral. Por exemplo: se você vai num concerto de um cantor, você não fala que vai num "concerto de música cantada". Então por que tem que falar que vai assistir a um show de música instrumental? Música é música, independentemente da linguagem. Pode ser orquestral, pode ser batucada, pode ser cantada, pode ser recitada, pode ser hip hop. Tudo é música, e essas separações são um pouco perigosas. Eu comecei cantando desde muito pequeno, desde criança, a minha família tinha um grupo de música de baile lá no sul do Brasil (Os Fronteiriços) e a minha relação com a canção sempre foi muito próximo. Depois eu me dediquei ao instrumento, comecei a fazer uma carreira internacional… As pessoas pouco entendem que a palavra é uma questão limitadora de certa forma. A língua universal mesmo é o som. Então eu me dediquei muito mais a esse lado, e segui minha carreira dessa forma, e também não quero dar uma guinada, não tenho pretensão nenhuma de lançar esse material ao vivo, esse disco cantado. Não quero fazer show disso. Eu tive um acidente caseiro há uns cinco anos, na Copa do Mundo: quebrei um osso do punho e tive que ficar uns três meses sem tocar, para me recuperar. Tive que fazer uma operação e tal. E, durante essa época, eu comecei a pagar um pouco dessa dívida que eu tinha do início da minha infância, da minha família, que era me aproximar da canção novamente. Nesse tempo em que eu fiquei parado, compus várias melodias e tive o privilégio de trabalhar com o Paulo César Pinheiro, que inclusive está completando 70 anos. Noventa por cento das músicas do disco foram feitas com ele. Eu fiquei com vontade de registrar isso. Conversando com ele, durante as idas que eu fazia à casa dele para a gente finalizar as canções, ele me dizia: "Você que devia gravar isso aí." Eu respondia para ele: "Tem que chamar alguém para cantar." E ele: "Ninguém vai ter mais propriedade, mais dignidade do que você para mostrar essas músicas. Acho uma bobagem você ficar com esse receio." E ele me convenceu. Na época eu estava começando a construir meu estúdio em casa, que é profissional, a qualidade sonora é ótima, e eu comecei a gravar essas canções. E demorou bastante para eu conseguir um resultado que me deixasse satisfeito. As coisas foram gravadas de uma maneira totalmente orgânica, voz e violão ao mesmo tempo, sem muitas afinações, sem essa parafernálias modernas. É um disco bastante intelectual, no sentido de que as músicas são bem densas, bem profundas. Não é canção para você passar uma hora no trânsito, é um negócio para você ouvir com atenção. Não é um trabalho que eu tenha a pretensão de que aconteça alguma coisa especial (risos). Não estou com essa expectativa mesmo, é realmente um registro das canções e foi feito com muito carinho, com muita verdade. São músicas que tinham que ser registradas assim. Seria um pecado se eu não tivesse a coragem de mostrar isso para o público, esse outro lado, esse outro braço do meu jeito musical. Que tem várias coisas, eu sou compositor também, são diversas formas de me comunicar com as pessoas. E a canção é uma delas também. 

O disco se chama "Vento Sul"?

Exatamente. Já foi para a fábrica, anteontem, para chegar aqui e eu devo lançar isso em 1º de julho. Vou lançar independente mesmo, vou botar nas plataformas digitais e vou fazer um bafafá para as pessoas ouvirem.

A gente pode descartar mesmo a chance de ver uma apresentação ao vivo desse disco?

Eu não quero fazer isso, não. Não quero mudar o caminho da minha carreira. Eu sou um instrumentista. Essas canções estão aí, quem quiser pode ouvir. Mas show não quero fazer.

Você gravaria canções outra vez ou foi uma experiência única?

Eu gravaria, sim. Quero continuar fazendo esse lado cancioneiro. Acho muito bonito. Inclusive esse disco "Vento Sul" tem 12 canções. Só com o Paulinho Pinheiro eu devo ter umas 25, fora com outros poetas. Então eu vou esperar agora um tempo, lançar isso com calma e logo depois fazer um outro apanhado. E aí devo gravar de outra forma, com arranjos, fazer um outro tipo de disco. Mas dessa forma, despretensiosa, registrando a obra.

E seus planos para este ano então são o lançamento do disco e os shows no exterior? Você está sempre com um projeto novo?

Nossa! Tem essas viagens todas, que são muito cansativas. Tem um disco também que eu estou finalizando semana que vem, tocando música caribenha, instrumental, para o qual eu convidei um músico mineiro para fazer os arranjos para mim, uma produção bem grande. Esse menino é um multi-instrumentista muito talentoso. Vai ser um disco de violão com vários instrumentos de sopro, muito dançável. Um disco popular, fácil das pessoas ouvirem de uma maneira descontraída, durante uma festa, tem bastante música para dançar, é um barato. Eu ainda não sei o nome, esse disco deve ser lançado até o final do ano. O músico se chama Marcelo Giran. É um talento, esse menino. Mora em Belo Horizonte e está vindo para a minha casa no dia 9 para a gente finalizar esse trabalho. Tem um outro CD com o Bebê Kramer, que é um acordeonista maravilhoso, a gente gravou junto aqui. Tem muita coisa acontecendo. Eu estou pensando em passar uma temporada fora no ano que vem, porque é muito difícil ficar indo e voltando, eu tenho muito show lá fora, então estou vendo a possibilidade de construir uma base fora do país.

Acaba fazendo mais shows lá, né?

Cada vez mais. Então fica muito cansativo ficar numa ponte aérea transatlântica.

Você vem de uma família totalmente ligada à música, desde novinho também cantou… Por que acabou escolhendo o violão? Qual a grande mágica, o que ele representa para você?

Meu Deus, é um instrumento interessante pela característica que ele tem. Na verdade é um instrumento para você fazer recital. Pelo menos o violão acústico é para você tocar para pouca gente. É portátil, você leva para qualquer canto. Mesmo tocando mal, muito pouquinho, você pode fazer uma grande festa: aprende a tocar duas canções e toca com os seus amigos. Você anima uma piquenique (risos). Ele tem uma função social muito linda, muito bonita, sabe? Ao mesmo tempo que é um instrumento encantador. Claro que, quando eu era criança, não conseguia enxergar dessa forma. O meu pai tocava muito bem. Sem dúvida foi uma grande influência. E ele era amigo na época de um grande violonista argentino que frequentava a minha casa, Lucio Yanel. Ele é um instrumentista genial. Quando eu vi ele tocar, eu tinha sete, oito anos, fiquei louco. Falei: "Nossa, eu quero tocar assim!" Eu vi ele se apresentando numa casa noturna em Porto Alegre. Entrei com o meu pai no lugar, na hora em que ele estava solando, e vi as pessoas boquiabertas. Parecia que o tempo tinha parado. O som dele era uma coisa que fazia com que a gente se transportasse para uma outra dimensão. É o que acaba acontecendo mesmo com a música. Quando eu vi aquela sensação, daquele cara se entregando em cima daquele instrumento, e as pessoas absorvendo aquilo, como se fosse um certo tipo de mágica, eu encontro um pouco do meu… pelo menos da minha intenção na época, do meu caminho. Eu falei: "Nossa, o que eu quero da minha vida é poder fazer esse tempo parar um pouco e me comunicar assim com as pessoas." E, por sorte, a vida acabou me carregando para esse lado. Eu considero realmente um privilégio, às vezes até um processo de cura você tocar para as pessoas. É uma coisa muito especial, muito profunda. Independentemente de toda essa coisa da carreira, eu acho que a música é uma linguagem que é vista ainda de uma forma muito limitada. Agora uns neurocientistas estão começando a enxergar um pouco mais. Os lugares que a música afeta, a quantidade de dopamina que ela libera, a quantidade de coisa boa que faz para o sentimento humano você se comunicar através dessa linguagem. Independentemente do nível musical que você tenha, mas a música vista como saúde mesmo. Acho que é uma tendência na qual a gente tem que ficar mais ligado. Porque realmente é uma coisa que faz muito bem.

Quando você machucou o punho, teve medo de não voltar a tocar igual?

Tive, claro que tive. Na verdade, eu quebrei o punho e não identifiquei isso rapidinho. Eu estava no meio do meu turbilhão, da minha vida doida. Eu viajei para fora, fiz concerto com orquestra na Austrália com o punho quebrado, um osso chamado escafoide, que é importante. Só que não dá para ver facilmente. Então eu comecei a fazer fisioterapia, diziam que era tendinite, que não era… Também tive alguns diagnósticos errados. Até conseguir numa médica de fato responsável demorou um mês e meio, dois. Comecei a sentir dor, dor. Eu tocava, fazia os concertos e botava a mão dentro de um balde de água quente, de tanta dor. Imagina, eu estava com um osso quebrado! E uns profissionais não viram isso. Até que eu tive que fazer uma tomografia, detalhada e tal, com essa médica, Drª Denise. Quando ela viu, falou: "Nossa, você está se machucando, está abrindo o osso!". Ele tinha uma fissura no início. Se eu tivesse parado de tocar acho que por um mês o osso teria cicatrizado sozinho. Mas eu não fiz isso, não sabia. Até que essa médica maravilhosa viu e disse: "Olha, amanhã a gente vai operar esse negócio." Aí eu perguntei: "Como eu faço com a minha agenda?" Ela falou: "Pode cancelar tudo durante três meses." Acho que foram uns 30 concertos, uma coisa assim. Foi um negócio bem complicado de organizar. Mas foi também um break que eu estava precisando e não sabia. Porque a gente entra nessa roda-viva da vida musical, da carreira, um turbilhão e não para mais. É meio doentio, meio louco. Eu costumo dizer que o artista começa como uma brincadeira, depois vira um prazer e depois vício, essas três fases. E eu tive medo, sim, de não poder voltar a tocar. Mas ela me deu segurança. E com muito menos de três meses eu já estava tocando de volta. Fiz um pouquinho de fisioterapia, mas foi um negócio muito rápido. Foi impressionante. No primeiro dia depois da cirurgia, que teve anestesia geral, tudo mais,  quando eu acordei a minha cabeça era como se fosse um balaio de sons, um balaio de melodias. Eu não sei se foi alguma percepção minha psicológica de que eu estava naquela situação e a cabeça reagiu daquela forma. Minha cabeça de sons, melodias compridas, desconhecidas, uma catarse mental que me deu, uma coisa assim que… sei lá, algum tipo de proteção, não sei. Até hoje eu não consegui entender direito aquilo. Eu sei que no final da história deu tudo certo. Foi um susto. E também uma certeza de você seguir na missão. Porque até eu ter sofrido esse acidente de vez em quando eu me fazia perguntas, questões: "Nossa, que vida louca essa que você foi inventar! Será que é isso mesmo, nesse ritmo maluco, de ficar sem parar e viajar?". Depois que eu me recuperei, essa pergunta nunca mais voltou a me visitar. Foi uma coisa boa.

Vai lá:
Rio Montreux Jazz Festival
Quando: Até domingo, 9 de junho
Onde: Armazéns 2 e 3 do Píer Mauá, Parque Madureira, Praça Nossa Senhora da Paz, Varnhagem, Parque das Rosas e Largo do Machado
Quanto: a partir de R$ 25

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

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