'Estamos vivendo um momento louco, de muita repressão', diz Luiza Lian
Kamille Viola
12/07/2019 20h10
Luiza Lian estreia sua turnê "Azul moderno". Foto: divulgação/Fernando Banzi
Lançado em setembro do ano passado, o disco "Azul moderno", de Luiza Lian, o terceiro da carreira da artista, foi escolhido o melhor disco de 2018 pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, figurou em diversas listas de melhores do ano e levou Luiza a ser convidada para ser apresentar no Lollapalooza. O show do disco, no entanto, originalmente concebido como um espetáculo audiovisual, foi pouco visto até hoje. É essa apresentação que chega sábado ao Rio de Janeiro, no IED, dando início à turnê que passa ainda por Recife, Goiânia, Porto Alegre e Salvador.
Luiza, que é formada em artes visuais, foi pioneira no formato de álbum audiovisual no Brasil, com "Oyá Tempo", que ela lançou em 2017. O trabalho anterior originalmente seria uma performance. Acabou se transformado em um disco. "Como a música é uma linguagem que é tão viva, tão importante foi mais fácil encaixar a música na minha ideia de visualidade do que tinha sido até então encaixar as artes visuais no meu show. E, no momento que eu fiz isso com o 'Oyá Tempo', eu percebi que era o que eu sei fazer. Que podia ser interessante e potente fazer um show e uma experiência visual, em que você mergulha. Que não é uma peça de teatro, mas tem um começo, meio e fim, que tem uma sensação, como uma poesia mesmo. Não é um livro de prosa, uma ficção, mas te leva de um lugar para o outro", explica a cantora e compositora.
Em conversa com o blog, ela também falou sobre o momento de destaque das compositoras brasileiras, a Síndrome da Impostora (que seria a insegurança em desempenhar uma função em meios tradicionalmente dominados por homens) e machismo. "Por que constantemente as pessoas falam: 'Nossa, que grande compositora mulher você é', e comparam o amigo que está do meu lado ao Caetano Veloso? Então eu acho que é um momento que a gente tem que aproveitar e usar com muita sabedoria, mas sabendo que não está ganho. E que a gente precisa ter atenção em muitas coisas. Existem várias que precisam ser desconstruídas em nós mesmas", analisa.
Vi que você pensava em lançar um disco novo este ano ainda, mas resolveu dar mais tempo para o "Azul moderno". O show chega ao Rio e segue em turnê por outras cidades depois de você já ter apresentado ele várias vezes, inclusive no Lollapalooza. Como é a sensação de chegar nos lugares depois que já pôde amadurecer esse trabalho?
Eu acho bem interessante que por um lado a gente fez o show algumas vezes, mas ele tem duas vertentes. Porque uma coisa é um show que eu apresento num festival, e você adapta o seu repertório para esse momento. E no caso desse show é mais do que encurtar o setlist. Ele tem um lugar também de transformação, não tanto musical, mas também da energia do show, porque ele tem toda uma atmosfera visual muito forte, e ela é adaptada para o festival. No caso do Lolla, a gente fez com painel de LED. Mas ele foi pensado para ser feito com projeção, e o laser, e a cenografia… Enfim. Acho que o show tem uma atmosfera que não foi apresentada tantas vezes, na real. Eu apresentei ele lá no Teatro Off-Sina, daí a gente fez no Sesc Piracicaba e agora acabou de fazer no Sesc Pompeia, um show grande. Agora eu estou começando a turnê dele já nessa atmosfera nova mesmo. A gente repensou a cenografia dele, então, de certa forma, o repertório está amadurecido, mas o show está muito fresco ainda. E está sendo pensado para cada cidade de uma maneira. Aqui ele vai ter uma coisa muito única de ser no terraço do prédio do Cassino da Urca, porque exatamente cria essa relação com o mar, com o espaço, com a natureza de fazer ele para fora, que é uma coisa que nós não fizemos. Esse desenho plástico, visual é muito importante para mim, e a gente está pensando muito em um para cada cidade.
Seu trabalho anterior já era um disco audiovisual, que até é uma tendência que eu acho que está crescendo aqui no Brasil. Como se dá a criação da parte visual em relação à música? Você pensa tudo junto? Como isso acontece, já que é um elemento importante para você?
Para mim foi um processo. A gente tem várias coisas que nos impulsionam, e as artes visuais sempre foram uma delas para mim, muito forte. É o que eu escolhi estudar, no que escolhi me formar mesmo. Às vezes quando você começa num caminho com a música você acaba acreditando em várias coisas. E quando eu comecei a fazer o "Oyá Tempo", na verdade eu nem imaginava que ia ser um disco. Eu estava pensando: 'Putz, eu acho que eu preciso fazer uma performance.' E como a música é uma linguagem que é tão viva, tão importante foi mais fácil encaixar a música na minha ideia de visualidade do que tinha sido até então encaixar as artes visuais no meu show. E, no momento que eu fiz isso com o "Oyá Tempo", eu percebi que era o que eu sei fazer. Que podia ser interessante e potente fazer um show e uma experiência visual, em que você mergulha. Que não é uma peça de teatro, mas tem um começo, meio e fim, que tem uma sensação, como uma poesia mesmo. Não é um livro de prosa, uma ficção, mas te leva de um lugar para o outro. É um pouco essa relação. E eu acho que as minhas músicas já são um pouco imagéticas. Porque eu tenho essa maneira de pensar. Foi um momento meio de ir tirando várias coisas da frente tentando encontrar qual era a essência desse meu pensamento como artista, onde essas coisas estavam juntas. Eu me uni a outros artistas — quem faz a iluminação, quem faz o laser, quem faz as projeções —, mas também parei diante deles para dizer: 'Eu imagino o show assim, nessa música acontece isso, ela amanhece…' E isso foi muito legal, foi uma nova descoberta de dirigir meu próprio trabalho. Visualmente, né? Claro que eu já dirigia de outras maneiras. Dirigir um show mesmo.
O disco se chamar "Azul moderno" também tem a ver com isso? Eu sei que é uma das faixas, mas é uma cor também…
Acho que tem sim. Tem uma certa homenagem à modernidade, no sentido do século 20 mesmo, das coisas que aconteceram, da Tropicália, 60 e 70, as coisas que ferveram na música, tem essa referência. Eu tenho essa sensação de que, quando a gente usa a palavra "moderno", pode estar ou se referindo a uma coisa meio nova, mas também modernidade é uma coisa do passado agora, já. E de uma sensação de uma coisa que foi um processo de transformação, e essa palavra traz esse peso, de uma transformação na realidade, mas que já, de certa forma, é meio velha, meio retrô. É meio vintage a modernidade. E acho que o meu disco trazia um pouco isso de ter um olhar muito grande para essa música dessa época, para essa maneira de se relacionar dessa época, para a minha mãe, para a minha avó, essas mulheres, mas trazendo uma coisa do futuro literalmente, tentar ser mais futurista em relação a isso, então pegar isso tudo e mesclar numa doideira. Mas também, principalmente, eu tirei isso de uma música de mulher chamada Maria Damião, que é uma compositora acriana do começo do século passado, tipo 1920, o que é uma raridade. E ela era daimista (do Santo Daime, religião amazônica). E tinha essa música que falava de Nossa Senhora com manto "azul moderno". E eu ficava imaginando e brincando com algumas amigas minhas: "Como era esse manto 'azul moderno'? Era meio manto de proteção? Mas o que o significava o 'azul moderno'? Era um azul psicodélico? Ou se todas as cores do céu são 'azul moderno'?" Viajei nisso que ela falou. Fui descobrir depois que significava azul pacífico, no Acre. Como se fosse o azul do céu. Eles interpretaram a palavra moderno. Desde que eu fiz essa música, e isso veio muito naturalmente, porque era uma coisa que estava na minha cabeça, e era uma brincadeira que eu fazia com algumas pessoas, eu sentia que, sei lá, esse nome por si só é tão poético e tão forte. Ele já te faz imaginar um monte de coisa: o que é um azul moderno? É o azul tecnológico? Ele é esse azul transcendental? Foi o que eu busquei.
E tem a ver com os temas que você aborda, né? Porque acho que você fala desde coisas que possam remeter ao passado até assuntos de hoje. Eu já vi você falando sobre como pensa essa questão do tempo. É algo que te faça refletir?
Para mim é uma coisa muito central da minha pesquisa. É uma coisa meio até mais filosófica, de entender como é nossa relação com o tempo se dá, e como também ele é inevitável e é rei de tudo. E como a gente fica tentando driblar isso de todas as maneiras. E não só o tempo, mas também o tempo e a maneira como a gente se relaciona com o espaço, no sentido de estar vivo, envelhecer e acabar, ser efêmero, e, ao mesmo tempo, tentar se imortalizar nessa nova camada virtual — a nossa geração está vivendo meio a pré-história disso, né? A gente não sabe o que vai ser. Mas eu acho que as pessoas estão se transformando muito por conta disso, e isso é uma coisa que me instiga, me angustia, me faz pensar muito sobre, até por ter uma espiritualidade. Mas, ao tempo que eu tenho espiritualidade, viver tão fortemente essa coisa da tecnologia, dos avatares, das redes sociais e tudo mais. Entender para onde a gente está indo com isso. Que também é uma transformação no tempo, de alguma forma. E também é uma tentativa ao mesmo tempo de controlar o tempo e de se imortalizar e várias coisas. Ah, enfim. Eu não sou filósofa, eu sou artista, então vou viajando nisso, vou tirando minhas conclusões e fazendo minha poesias a respeito desses sentimentos e angústias.
Hoje a gente está vivendo um momento de muita luz em cima das compositoras, acho que em várias faixas: desde as artistas independentes mais conhecidas, como você e as pessoas da sua geração, até as do mainstream, a gente vê no sertanejo, no funk. A gente está vivendo um momento de atenção mesmo, de espaço. Os olhos estão voltados para as compositoras aqui no nosso país. Como você vê isso e como se sente sendo parte desse momento?
Nossa, acho que é a primeira vez que alguém consegue me fazer essa pergunta sem ser aquela coisa esdrúxula: "Como é ser mulher na música?" (risos).
Talvez por ser uma mulher te perguntando… (risos)
Não, mas olha, muita mulher já me perguntou no mesmo lugar. Acho que essas coisas estão se transformando muito, e isso é incrível. Eu acho que isso vem de vários lados, e um deles é: o próprio movimento que está levando a isso. Mas também acho que é uma necessidade inevitável para o mundo de ouvir uma outra voz, de gente que tem outras coisas para dizer que partem de uma perspectiva um pouco diferente, um tanto diferente, que é a mulher. Ao mesmo tempo, é um caminho longo ainda a ser percorrido. Está rolando esse movimento, acho que está rolando essa importância mesmo… Ah, essa luz mesmo, como você falou, sobre nós, sobre as compositoras. Tudo está sendo visto. Mas ainda sinto que tudo é muito frágil e que pode muito bem estar num lugar de moda ainda, que não dá muito para cantar vitória ainda. Porque, como eu te disse, a cada dez entrevistas que eu dou, nove têm uma pergunta tipo: "Como é ser mulher na música?". Que é diferente dessa que você me fez, que é: "Como é estar vivendo esse momento em que está acontecendo?". Ou então a pergunta: "Como é isso que estão te dando oportunidade para tocar nos festivais?" Já recebi. E aí eu fico pensando: pô, eu trabalhei tanto, eu estou batalhando tanto para, sei lá, tocar no Lollapalooza, por exemplo, um dia na minha vida. E aí a primeira pergunta que me fazem é: "O que você acha dessa generosidade dos festivais em colocar mulheres lá?". Como se isso não fosse um mérito meu, e sim uma coisa que me está sendo dada. Como se não fosse uma conquista que eu tive, que as mulheres tiveram como um todo, e sim uma coisa com a qual estão me presentando, uma generosidade. Não um espaço que a gente abriu. E eu fico pensando nisso: se tudo isso está acontecendo, por que constantemente a gente fica sendo colocada nesse lugar? Por que constantemente as pessoas falam: "Nossa, que grande compositora mulher você é", e comparam o amigo que está do meu lado ao Caetano Veloso? Então eu acho que é um momento que a gente tem que aproveitar e usar com muita sabedoria, mas sabendo que não está ganho. E que a precisa ter atenção em muitas coisas. Existem várias que precisam ser desconstruídas em nós mesmas. Porque eu acho que às vezes ser mulher nesses ambientes é você estar lidando com uma série de sentimentos. Do tipo: "Nossa, será que eu merecia estar aqui?". Eu estava conversando com umas amigas e falaram sobre a Síndrome da Impostora, sabe? "Quando vão descobrir que eu sou uma farsa?", "Será que eu sou boa o suficiente para fazer isso?". Você está o tempo inteiro tendo que atravessar uma série de coisas que são crenças que foram enfiadas dentro de você desde que você é muito nova. Então eu acho que para mim, estar vivendo esse momento, é estar me deparando constantemente como um monte de coisa que precisa ser desconstruída na nossa visão, para que a gente possa ter espaços de fato generosos e igualitários, que não nos diferenciem tanto.
Eu também gostaria de não precisar falar sobre ser mulher quando eu entrevisto mulheres, e eu entrevisto muito — e por isso eu vejo esse movimento, de ver as compositoras aparecendo. Mas ao mesmo tempo a gente tem que falar, né?
É exatamente. Qual o limite? No fim, algum lugar é o limite de como a pergunta está sendo formulada. Se você está perguntando isso e me dando espaço para eu falar de quem eu sou, ou se você está me perguntando isso me colocando um pouco no mesmo lugar, me colocando "no meu lugar" — que tem a ver com essa pergunta que eu falei que me fizeram no Lollapalooza. Mas ao mesmo tempo é, sim, fundamental, e é, sim, um momento excepcional para nós todas. É um momento da gente estar atento, porque junto desse movimento que a gente fez está vindo todo um revés bizarro, né? Um momento muito louco, de muita repressão.
Você se sente mais exposta enquanto uma autora mulher? Eu lembro da Letrux falando que todo mundo que ficava querendo dizer que o disco dela era sobre o ex dela e não sei o quê, como se uma mulher não fosse capaz de ter criatividade, de não falar só sobre o literal. É óbvio que todo autor se inspira também no real, mas talvez os homens não sejam tão julgados dessa forma. Você vê isso acontece com você também?
Sim, mas acho que talvez num lugar da minha espiritualidade. Eu entendo totalmente esse sentimento da Letrux, porque, como ela trata de relacionamentos, deve ficar muito mais gritante do que quando as pessoas vão conversar, por exemplo, com o Tim Bernardes sobre as composições dele, apesar de elas serem muito mais pessoais, nesse nível dos acontecimentos pessoais da vida dele. As minhas músicas têm esse lugar meio filosófico, que até fica meio frito às vezes, as pessoas ficam: "O que ela está falando?" (risos). O que eu sinto é que isso entra num lugar meio como se fosse muito excepcional ter uma mulher falando sobre filosofia, uma reflexão sobre o tempo e a transcendência… Estão sempre tentando te colocar numa caixinha: "Ah, então você está falando dos orixás", "Ah, então você está falando do sexo", "Ah, então você está falando do feminino". Sei lá, também. Das entidades femininas. E de uma relação minha com o meu feminino. Pode ser. Mas ninguém vê um cara fala: "Nossa, ele está falando sobre o masculino nesse relacionamento." Ele está falando sobre o amor dele: "Ah, essa visão masculina sobre o amor." O que eu sinto é de ser colocada num lugar de "nossa, que loucura, que excepcional ela estar falando sobre uma coisa que não é relacionamento".
Eu li que você fez as músicas do "Azul" e do "Oyá" ao mesmo tempo. Como é o seu processo de composição? Por exemplo, você tem mais coisa guardada? Já pensa nesse próximo disco que tinha mencionado?
Eu tenho um processo muito doido, eu vou criando uns tentáculos. Eu tenho muita música que eu não gravei, dentre elas existem músicas que eu ainda não sinto vontade de gravar, tem outras que eu sinto vontade, e tem coisas que eu penso: quero tentar experimentar uma outra coisa por aqui. Mas eu já super estou construindo meu próximo disco. Para mim, o que acontece é que eu vou levantando as coisas: então beleza, eu vou compondo essa música, ou fiz essa poesia e quero fazer uma experiência com ela, ver o que surge, fazer uma música a partir dela, tive essa ideia melódica aqui e quero ver o que acontece com isso, essa sensação. E daí eu vou entendendo o que encaixa onde. E por isso essas músicas foram feitas ao mesmo tempo. Eu estava no meu plano de gravar o "Azul moderno", na verdade. A maioria das músicas do "Azul" foi composta até antes de algumas do Oyá. E eu estava com vontade de gravar o "Azul moderno", estava fazendo um EP para lançar ainda de soltar meu próximo disco, que seria o "Azul", e ao mesmo eu estava com umas coisas entaladas, uns sentimentos a respeito do tempo, a respeito da maneira como a gente está se relacionando com a transcendência, com o mistério. E como fica com essa realidade tão chapada que a gente está desenvolvendo nesse momento com a internet. E eu pensei: "Ah, vou fazer uma performance." E ela tinha a ver com alguns cantos de entidade que eu estava fazendo com a minha irmã, eu juntei tudo isso. A performance acabou ganhando os cantos, as poesias acabaram ficando mais musicais e virou o "Oyá tempo", que atravessou o processo do "Azul". Eu já estava planejando ele, mas comecei fazer o meu EP e a minha performance, e isso acabou virando um disco. Quando eu estava finalizando esse álbum, a gente tinha planejado começar a gravar o "Azul moderno", mas já tinha algumas coisas pré-gravadas. Então são dois discos que são meio trançados: na semana em que eu lancei o "Oyá tempo", eu entrei no estúdio para finalizar as gravações do "Azul moderno". E depois disso também tem uma coisa que o "Azul" estava indo numa toada de "vou fazer uma coisa com banda e tal". E eu: "Beleza, vamos levantar o 'Azul' como a gente pensou (Tim Bernardes e Charles Tixier produziram o trabalho), só que eu acho que o que é mais verdadeiro, que está mais pulsando para mim é essa viagem mais eletrônica, então vamos usar levantar o 'Azul' como disco de banda, mas usar ele como a base para fazer o nosso disco eletrônico, desconstruir ele inteiro. Então depois que eu estava lançando o 'Oyá' e terminando de gravar violão, bateria, sopros do 'Azul moderno" eu virei para o Charles e falei: "Beleza, agora você destrói isso que a gente fez, completamente. Eu quero um outro disco. Em cima desse, mas é outro." Isso é massa, porque eles realmente foram discos que se atravessaram.
O 'Oyá' se impôs, né?
Exatamente, o 'Oyá' se impôs, foi um raio mesmo.
Apesar do 'Oyá' ter tido bastante repercussão, acho que o 'Azul moderno' teve mais barulho, digamos assim, em torno dele. Isso traz uma pressão quando você pensa no próximo trabalho? Você se sente angustiada de alguma forma?
É, eu acho que um pouco. É uma coisa inevitável, quando as pessoas começam a ouvir mais o seu trabalho. Eu senti isso um pouco a respeito de todos os discos. Eu estava num caminho muito diferente quando eu lancei o 'Oyá'. Então antes de lançar, até o último minuto, eu neguei que aquilo era um disco. Isso foi o que me deu toda a liberdade para fazer ele do jeito que ele tinha que ser, do jeito que ele é, uma outra viagem. E eu percebi que quando você coloca o seu trabalho em risco — beleza, tem uma pressão, e dá o maior frio na barriga lançar uma coisa que você não faz ideia de como as pessoas vão receber e tudo mais —, quando você se arrisca, o trabalho agradece muito. E as pessoas também, de alguma forma. Acho que a maior pressão que eu tenho para mim mesma é não ser muito repetitiva. De você estar falando de uma coisa que está pulsando. Ao mesmo tempo também não entrar numa paranoia de "precisa se renovar". A maior pressão que eu tenho não é relação ao meu público — claro, em relação a ele também —, mas comigo mesma, de não deixar meu trabalho estagnar muito, não ficar numa zona de conforto. Acho que isso é o mais perigoso num trabalho artístico. O que mais tem em todas as áreas é as pessoas encontrarem um lugar e ficarem ali. E tudo bem também, está valendo. Acho que se você encontrou uma caminhada, achou uma coisa e quer ficar ali para sempre, está valendo. Neste momento, eu não me sinto "putz, achei um lugar". Eu quero continuar buscando, tenho várias coisas para mostrar, tenho várias ideias. Eu cantava jazz antes de estar fazendo a minha parada solo (ela foi das bandas Noite Torta e Nuage Jazz), isso foi uma escola superimportante para mim, em algum momento eu acho que vou trazer isso de volta… Estou aí para me experimentar e ver até onde eu consigo chegar. Não acreditar na Síndrome de Impostora, acreditar que a gente é capaz de se reinventar muitas vezes.
Vai lá:
Luiza Lian — 'Azul moderno'
Quando: Sábado, 13 de julho, às 18h
Onde: IED Rio. Av. João Luiz Alves, 13 – Urca
Quanto: R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40
Sobre a autora
Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.
Sobre o blog
Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.