Topo

Em música nova, Dona Onete homenageia mulher negra carioca

Kamille Viola

14/09/2018 13h32

Dona Onete se prepara para lançar o terceiro disco. Foto: divulgação

Nos últimos anos, ir a uma festa no Rio e ouvir alguma música de Dona Onete na pista virou rotina. Aos 79 anos, a cantora e compositora paraense colhe os louros de uma carreira que deslanchou tardiamente — embora ela cantasse desde pequena, seu primeiro disco solo foi lançado quando a artista já tinha 73 anos — e segue firme e forte. Prestes a gravar seu terceiro álbum, ela apresenta neste sábado no Circo Voador o show de despedida da bem-sucedida turnê "Banzeiro", que a levou a se apresentar no exterior, inclusive no famoso festival Roskilde, na Dinamarca, e a dar entrevista para a icônica rádio BBC, em Londres, entre outros feitos.

No show, ela já adianta três músicas do próximo trabalho: "A festa do tubarão" ("lá piranha não entra", ri), o brega "Ação e reação" e o samba "Musa da Babilônia". "Muita gente vai ficar meio assim: 'Ela veio de lá para fazer isso?'. Estou homenageando a mulher negra desse Rio de Janeiro, que é maravilhoso. Aqui a cultura negra é muito forte. [A música] fala sobre a negra do Morro da Babilônia. É uma história que eu tenho com aquele finzinho de praia, Leme, desde quando cantava no Coletivo Rádio Cipó. Se teve a Garota de Ipanema, a negra da Babilônia é a Garota do Leme", adianta Dona Onete, que comemora estar de volta ao palco da Lapa. "O Rio de Janeiro me abraçou com muito carinho, né, meu amor? Todos os estados fazem festa comigo, mas o Circo Voador parece a minha casa, lá eu faço uma farra, falo o que eu quero, eles respondem, é muito bom", anima-se.

A história da cantora paraense com os cariocas é antiga: foi em homenagem a um, que conheceu em São Paulo no tempo em que era militante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e já cantava em alguns eventos, que ela compôs a canção "Proposta indecente" (dos versos: "A proposta esta de pé/Pra você passar o inverno comigo/E se a gente se der bem/Passa o verão também"). "Era um período de luta, eu conheci muita gente, inclusive essa pessoa, que era presidente de um sindicato. Mas ele era caladinho, na dele. Os meus amigos é que faziam farra. Todo mundo queria Dona Onete. Se com essa idade [que tenho hoje] é essa a gritaria, todos querem falar comigo, imagina há quase 30 anos atrás", diverte-se ela.

O novo disco, "Rebujo", foi batizado a partir de um termo usado em sua terra para se referir  a um fenômeno que acontece no fundo do rio e "tudo que está no fundo aparece, vem flutuando", explica. Mais uma vez, Dona Onete traz em seu trabalho os costumes típicos da região onde sempre viveu. "Estou mexendo com a cultura do Pará, tudo aquilo que não se falava estou falando agora. Já fiz 'Banzeiro' que foi aquele banzeiro [o termo, usado no Norte do país, se refere às ondas provocadas pelo movimento das embarcações nos rios], e agora venho com 'Rebujo"', explica ela. O álbum será gravado entre outubro e novembro e terá a produção do guitar hero paraense Pio Lobato, que abre o show de Dona Onete no Circo.

Depois de ter passado pela Europa e pelas Américas, a Rainha do Carimbó Chamegado (nome criado pela própria artista para definir sua música com letras de teor romântico e sensual) leva sua música para a Oceania, em março de 2019, em shows na Austrália e na Nova Zelândia. "É aquela coisa: muita gente não sabe o que estou cantando, eu não sei que eles estão falando, mas a gente se entende. É do ritmo que eles gostam. A música que nos une. É bacana e, na minha idade, mais bacana ainda", resume.

Professora de história e ex-secretária de cultura do município de Igarapé-Miri, no Pará, onde viveu depois de se casar aos 18 anos, Dona Onete sempre gostou de cantar e compôs mais de 300 músicas ao longo de sua carreira. Porém, sua carreira profissional é tardia: depois de se apresentar com o Coletivo Cipó e gravar uma faixa sua ao lado da conterrânea Aíla, ela estreou em disco somente aos 73 anos, em  2012, com "Feitiço caboclo". "Eu acho que tudo vem na hora certa. Quando eu já não precisava lutar tanto para me sustentar, surge essa oportunidade e eu estou nesse banzeiro (risos)", resume.

Vai lá:
Dona Onete — Despedida da turnê "Banzeiro"
Quando: Sábado, 15 de setembro, às 22h (abertura dos portões)
Onde: Circo Voador. Rua dos Arcos, s/nº – Lapa. Telefone: (21)
Quanto: R$ 40 (meia solidária, com 1kg de alimento, 1º lote) a R$ 100 (inteira, 2º lote)

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Em música nova, Dona Onete homenageia mulher negra carioca - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

Mais Posts