Casa Firjan abre ao público em palacete histórico reformado
Kamille Viola
03/08/2018 10h00
O jardim e o palacete. Foto: divulgação/Paula Johas
Durante mais de uma década, quem passava pelo palacete na esquina das ruas São Clemente e Guilherme Guinle, em Botafogo, via uma construção abandonada em meio à vegetação. O lugar foi construído pela família Guinle e estava vazio desde 2005, quando morreu o último morador, tendo sido brevemente ocupado em 2011 pelo Casa Cor. No ano seguinte, foi comprado pela Firjan. Depois de passar por um processo de restauração, o imóvel abre para o público nesta sexta-feira (3), transformado na Casa Firjan.
O espaço é dedicado ao empreendedorismo e à inovação. Ali, irão acontecer cursos, oficinas, palestras, debates, exposições, cinema ao ar livre e visitas guiadas. O lugar possui laboratórios equipados com computadores de última geração e impressoras 3D, entre outros equipamentos; uma biblioteca com de mais de 7.700 livros doados pela família do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, sendo 2 mil raros, e um café comandado pela chef Flávia Quaresma. Entre as 1.200 vagas nos cerca de 30 cursos, 250 terão bolsas integrais para alunos de baixa renda.
Conhecido como Palacete Linneo de Paula Machado, o edifício de dois andares em estilo romântico foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire (1872-1933), o mesmo de construções icônicas como o Copacabana Palace e o Hotel Glória, entre outras. O edifício foi erguido em 1906 por Eduardo Pallasim Guinle, patriarca da família Guinle no Brasil, fundador da Companhia Docas de Santos.
Ali, moraram Celina Guinle, filha do empresário, e o marido, Linneo de Paula Machado, com seus quatro filhos. Mais tarde, também se mudou para o imóvel outro filho de Eduardo, o empresário Guilherme Guinle, nome de destaque na industrialização brasileira, especialmente nos segmentos de infraestrutura, construção civil e energia. Fundou e presidiu, por exemplo, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O último morador foi Francisco Eduardo de Paula Machado, um dos filhos de Celina e Linneo, que ficou ali até morrer, em 2005.
O prédio de arquitetura sustentável construído no terreno. Foto: divulgação/Paula Johas
"Esse imóvel é cheio de significado. A família Guinle foi superimportante para o desenvolvimento socioeconômico da cidade. Essa casa está ligada ao crescimento do Rio de Janeiro e do Brasil", comenta o gerente da Casa Firjan, Gabriel Pinto. "O palacete é um bem tombado por duas instituições (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural —Inepac e Instituto Rio Patrimônio da Humanidade — IRPH). Ressignificar seu uso e entregá-lo de volta para o Rio num momento em que a gente está tão desesperançoso é muito especial. Andando pelos corredores (na abertura para convidados), a palavra que mais escutei foi 'esperança'. Chega de ouvir que a saída para o Rio é o (aeroporto) Galeão", comemora Gabriel Pinto.
Além da casa principal e de duas outras, geminadas, que também foram restauradas, o terreno de mais de 10 mil metros quadrados agora conta com um novo prédio de arquitetura sustentável, com sistema de reuso da água, aproveitamento da energia solar e telhado vivo. Com pé-direito alto e janelões envidraçados, que privilegiam a iluminação natural, possui laboratórios, estúdio audiovisual, auditório e espaço para trabalhos colaborativos.
Por seis meses, fica em cartaz a exposição "Transformação", dividida em três mostras, que conta a história dos principais industriais brasileiros por meio de painéis, esculturas, objetos e atividades interativas, incluindo obras de nomes como Raul Mourão, Adriana Eu e Gustavo Prado.
Durante todo o mês de agosto, a entrada na Casa Firjan é gratuita, e, a partir do dia 10, será possível conhecer os laboratórios às sextas, entre as 13h e 16h, mediante agendamento pelo site. Durante o mês, haverá palestras gratuitas às terças. No restante do ano, o público não paga para entrar às terças.
O espaço fica em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio que nos últimos anos vem passando por um boom gastronômico, com a revitalização de áreas antes pouco valorizadas. Além disso, conta com uma estação de metrô e diversas linhas de ônibus passam por ali, o que facilita o acesso para quem vem de outras regiões da cidade. A ideia é democratizar o acesso ao debate sobre o futuro, que, como frisa o gerente da Casa Firjan, Gabriel Pinto, está cada vez mais próximo.
"Nós somos abertos ao público justamente porque queremos recebê-lo aqui. Queremos nos conectar. Sozinho a gente anda rápido, mas junto vai mais longe", afirma Gabriel Pinto. "Em um espaço de inovação e reflexão, para você ter resultados melhores e maiores, é importante ter diversidade. De visões, olhares e origens. Esperamos diversidade de público", torce ele.
Dá para fazer um tour virtual pelo lugar (e quem tem óculos de realidade virtual pode ter uma experiência à parte).
Vai lá:
Casa Firjan
Quando: Segunda a sexta-feira, das 10h às 20h. Sábado, das 10h às 17h
Onde: Rua Guilhermina Guinle, 211, Botafogo. Telefone: (21) 2226-9913
Quanto: R$ 5 (meia para estudantes, idosos, associados da Firjan e moradores de Botafogo) e R$ 10. Entrada gratuita durante o mês de agosto e em todas as terças-feiras do ano
Sobre a autora
Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.
Sobre o blog
Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.