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Teatro Odisséia comemora 15 anos como espaço de resistência na Lapa

Kamille Viola

14/06/2019 12h31

Leo Feijó, fundador do Teatro Odisséia. Foto: divulgação/Mariana Serran

Quando o Teatro Odisséia abriu, em 2004, o cenário era outro. A Lapa estava no auge de sua revitalização, com programação intensa em bares como o Semente e o Carioca da Gema. O Circo Voador, que havia sido fechado em 1996, abriria no mês seguinte. Era um momento de programação musical intensa e o bairro estava em uma curva ascendente de desenvolvimento. Quinze anos depois, as coisas já não são as mesmas. O Odisséia foi sobrevivendo como pôde. No aniversário de 15 anos, no entanto, busca retomar sua vocação de casa de shows: até o fim do ano, vão acontecer cerca de 40 shows no espaço, com artistas dos mais diversos estilos musicais. A estreia da programação é neste sábado, com Wander Wildner.

A primeira atração do lugar foi ninguém menos que o grupo Los Hermanos, que já tinha passado por outros espaços do proprietário do Odisséia, Leo Feijó — ele chegou a ter mais de dez casas. Com o tempo, muitos outros artistas novos passaram por lá. "O Mauricio Valladares (fotógrafo especializado em música, autor de capas de discos importantes, e radialista) tinha falado isso que a gente tinha se transformado numa plataforma de lançamentos do Rio. Inclusive promovíamos muito intercâmbio, vinha gente do Nordeste, do Sul, São Paulo, Minas, do Brasil todo tocar", lembra Feijó. "Mas o Odisseia foi perdendo essa capacidade, porque nunca teve patrocinador. Foi ficando mais difícil. Você vai perdendo faturamento, tem que investir em trazer os artistas, pagar deslocamento, a comunicação — tem que divulgar para formar um público. Eu gostaria que ele voltasse a ser isso, mesmo sem patrocinador. Essa história dos 15 anos é uma dedicação nesse sentido", diz.

Face to Face (EUA), Thiago Amud, Moyseis Marques, Gabz, Choice, Sinara, Camerata Laranjeiras, Brasov e um show reunindo João Ribeiro, Rita Beneditto e Zeca Baleiro são algumas das atrações já confirmadas. "Quisemos trazer artistas que se apresentaram na casa e que têm relação com essa trajetória, como o Wander Wildner, o Brasov, que vai fazer um show especial de 20 anos. E também sinalizar para a cena musical: 'A gente está aqui, está vivo.' Sei que a gente passou um tempo fazendo muitas festas, o funk está sempre presente — e tem que estar mesmo, ele é uma expressão musical carioca, então as festas de funk vão continuar. Mas a gente tem espaço para fazer os shows também, para investir em música ao vivo", explica Leo Feijó. "A ideia foi fazer um panorama também, para mostrar que tem espaço para MPB, rock, heavy metal, rap, música instrumental. É uma casa de shows. Mesmo sem patrocínio, a gente vai insistir em fazer o que acredita", garante.

Ex-subsecretário-adjunto e coordenador de música na Secretária de Estado de Cultura, coordenador do programa Música e Negócios: Empreendedorismo e Inovação na PUC-Rio, Feijó é articulador da rede Palcos do Rio, que reúne 24 casas de show de pequeno e médio porte, e busca investidores. "É uma iniciativa que vem para tentar construir um novo caminho, não só para o Odisseia, mas para todas os espaços que participam. Justamente para mostrar: essas casas juntas reúnem mais do que um Rock in Rio por ano. Onde estão as marcas? Por que não conseguem enxergar isso? A gente oferece experiência, conteúdo, tudo o que os megaeventos oferecem. Só que fazemos isso ao longo do ano, é uma programação contínua. E música se faz todo dia, os artistas precisam ganhar dinheiro toda semana, não é só num festival", defende ele. "Manter um espaço cultural aberto no Rio de Janeiro hoje é um ato de resistência. Você não tem politicas públicas e as marcas querem só investir em megaeventos. É realmente uma luta", afirma.

Vai lá:
Festival Teatro Odisséia 15 anos: Wander Wildner
Quando: Sábado, 15 de junho, às 21h (abertura das casa às 19h30)
Onde: Teatro Odisséia. Av. Mem de Sá, 66 – Lapa
Quanto: R$ 20 (meia-entrada ou antecipado) e R$ 40. Passaporte para todos os dias de festival: R$ 100

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

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