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Atrações no Circo Voador esta sexta, Emicida e DriK Barbosa se entrevistam

Kamille Viola

02/11/2018 10h00

Emicida na gravação do DVD. Foto: divulgação/José de Holanda

Uma década depois do lançamento de seu primeiro single, "Triunfo", Emicida lança seu primeiro DVD, "Dez anos de Triunfo". O rapper traz esta sexta ao palco do Circo Voador o show de lançamento do trabalho, que faz um passeio por toda sua discografia, desde a primeira mixtape, "Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe", até sucessos mais recentes, como "A chapa é quente" (indicada ao Grammy Latino 2017), "Passarinhos" e "Mandume", entre outras. Ele também vai apresentar a nova música, "Inácio da Catingueira", que faz um paralelo de sua carreira com a história do escravo cordelista que viveu na Paraíba no século XIX e que usava a poesia como instrumento de luta. O DVD teve a participação de Karol Conka, Rael, Caetano Veloso, Pitty, Vanessa da Mata, Drik Barbosa, Guimê, Coruja BC1, Rashid, Prettos, Muzzike, Amiri e Raphão Alaafin.

A abertura fica por conta da rapper DriK Barbosa, que é integrante da Lab Fantasma, gravadora de Emicida, e que lançou este ano seu EP de estreia, 'Espelho'. Uma das principais vozes femininas do rap nacional hoje, ela integra o coletivo Rimas & Melodias e ganhou grande projeção ao participar da faixa e clipe "Mandume", de Emicida. Além das cinco músicas do EP, todas de autoria própria, ela apresenta composições do início de sua carreira, como "Sem clichê" e o medley "Para eternizar/Deixa eu te levar/Inconsequente".

Aproveitando a dobradinha na lona da Lapa, pedi para os dois fazerem perguntas ao outro. O resultado revelou as influências e algumas expectativas de cada um para o futuro.

DRIK BARBOSA: Qual foi o primeiro rap que você lembra ter ouvido na vida?

EMICIDA: MC Pepeu, "Nomes de meninas", um rap que tinha um refrão "Ruth/Carolina/Bete/Josefina", tinha um tom meio de rap de batalha, começava assim: "Fiquei sabendo, tem um tal de Pepeu, que canta rap bem melhor do que eu". Tinha uma parada de combate até no texto dessa música, e acho que isso também ter a ver com o fato de eu ter me apaixonado tanto pelas batalhas, pelos duelos. O primeiro rap que eu escutei tinha essa tônica, já.

DRIK BARBOSA: Você vai escrever mais livros infantis (ele lança seu livro de estreia, "Amoras", esta sexta às 18h na Livraria da Travessa de Botafogo)?

EMICIDA: Acredito que sim. É muito inspirador ter contato com as crianças, minha filhas me fazem olhar o mundo de uma maneira completamente nova, muito bonita e muito mais esperançosa do que eu costumava fazer no passado, então penso eu que sim, vai ser uma consequência quase que involuntária, a qualquer momento está aparecendo aí o Emicida contando uma história nova para as crianças.

DriK Barbosa abre o show de Emicida. Foto: divulgação/Luciana Faria

EMICIDA: Pensando na sua produção, que está se intensificando a cada ano, produzindo mais e mais coisas, como você se vê daqui a cinco anos?

DRIK BARBOSA: Eu me vejo daqui a cinco anos produzindo cada vez mais, compondo cada vez mais, estudando a minha escrita, a minha voz, a minha performance de palco, estudando para ter conhecimento para passar para as pessoas também, estudando a minha história como negra, também, para informar cada vez mais as pessoas, espero alcançar o máximo de pessoas possível com a minha mensagem e que a minha mensagem mude a vida delas. Eu acho que é isso. Até então, é o que eu penso, agora, mas o que vier de coisa positiva nesse caminho aí dos cinco anos eu vou ficar muito feliz (risos).

EMICIDA: A história do rap nacional tem muitas mulheres incríveis, desde Sharyline [do rap "Nossos dias", de 1989] até a sua geração. Quais são as top 5 MCs brasileiras para você, e por quê?

DRIK BARBOSA: Nossa, é difícil concentrar só em cinco mulheres MCs. Vou colocar até uma de bônus, se me permitirem. A primeira é Stefanie, ela foi uma das primeiras que eu ouvi rimando, foi a primeira com quem eu me identifiquei cem por cento com a mensagem, com a postura dela rimando, até conhecer a pessoa dela, que é maravilhosa, ela é uma MC incrível. A primeira vez que eu ouvi a Stefanie eu tinha 15 para 16 anos e foi um marco para mim, porque foi o momento em que decidi fazer rap, porque eu queria fazer rap como ela faz. E hoje eu tenho o prazer de fazer o mesmo grupo que ela, o Rimas & Melodias, e poder rimar junto dela no palco é gratificante. A segunda mulher é a Rubia RPW, ela foi uma das primeiras mulheres MCs do Brasil, uma mulher incrível, forte, que lutou por todas nós por todos esses anos, desde os anos 80 — ela começou a rimar no final dos anos 80, se eu não me engano — e abriu caminho para todas nós que fazemos rimas hoje pudéssemos subir no palco, falar nossa verdade e ser quem a gente é através do nosso rap. A terceira foi a Negra Li, porque também foi uma das primeiras mulheres que eu ouvi rimando, que é referência para mim e para várias colegas MCs. Além de ser uma cantora incrível, ela é uma MC sensacional e marcou muito para mim. O trabalho dela é muito importante nessa caminhada das mulheres no rap. A Karol de Souza, que também é minha parceira no Rimas & Melodias, sou até suspeita para falar, e também foi uma mulher MC que eu ouvi, me identifiquei de primeira com a mensagem dela, com a postura dela e tenho a felicidade de hoje ter ela como parceira também, como amiga. Eu me identifico muito com ela, com a dedicação que ela tem, com a verdade que ela coloca nas rimas dela. A quinta mulher é a Dina Di (1976-2010), que infelizmente eu não pude conhecer, por ela ter falecido tão cedo, mas que foi uma mulher que abriu muitos caminhos também para nós, que falou verdades, que enfrentou todo mundo, que enfrentou a opressão para passar a mensagem dela através do rap. Máximo respeito sempre para a Dina Di. E a bônus (risos), a sexta, é a Tássia Reis, maravilhosa, que é uma MC incrível, além de ser também uma cantora incrível, que eu amo muito, eu admiro muito a música dela, a força que ela passa, por ser também uma mulher preta que fala sobre o orgulho de ser preta, as tristezas que a gente também passa vivendo numa sociedade racista. Eu me identifico muito com as rimas da Tássia, além de também ter o prazer de conviver com ela. Tenho ela como minha irmã.

Vai lá:
Emicida — "10 anos de triunfo"
Quando: Sexta-feira, 2 de novembro, às 22h (abertura dos portões)
Onde: Circo Voador. Rua dos Arcos, s/nº, Lapa. Telefone: (21) 2533-0354
Quanto: R$ 60 (meia-entrada com 1kg de alimento) e R$ 120

Sobre a autora

Kamille Viola é jornalista, com passagens e colaborações por veículos como O Dia, O Globo, O Estado de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz e Canal Futura, entre outros. Nascida e criada no Rio, graças ao jornalismo já andou pelos mais diversos cantos da cidade.

Sobre o blog

Do pé-sujo mais tradicional ao mais novo (e interessante) restaurante moderninho, do melhor show da semana à festa mais comentada, este blog busca fazer jus à principal paixão do carioca: a rua.

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